Prezadas/os Leitoras/es,
Os habitantes da floresta de Elgon na África Central dizem que quando uma pessoa tem um grande sonho este deve ser comunicado a toda a comunidade. Um grande sonho é algo que se pensa coletivamente respeitando os processos de individuação. Neste mês de agosto do ano de 2020 a Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as completa vinte anos de existência. Esse é um sonho grande que se sonha junto e que integra o projeto coletivo de uma nação negra.
A ABPN se construiu com histórias pessoais, histórias sociais, e, sobretudo histórias de produção de qualidade de vida para o povo negro brasileiro. São 20 anos de manutenção de um lugar de potência e contra hegemonia. A ABPN é uma fonte de transformação do pensamento científico, mas também do reconhecimento de outras possibilidades de se pensar o mundo.
É com satisfação que esta editoria comemora o aniversário desta associação apresentando o dossiê temático “Crianças e Infâncias Negras: desafios e perspectivas antirracistas no Brasil” da Revista da ABPN – Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as.
Este dossiê, organizado pelas professoras Profa. Dra. Flávia de Jesus Damião, Prof. Dra Lucimar Rosa Dias e Prof. Dra. Maria Clareth Gonçalves Reis invoca o som dos pequenos tambores dos Ibejis, gêmeos sagrados para religiões de matriz africana e afro-brasileira, para criarmos, junto com nossos bebês e crianças negras, ações e estratégias coletivas que afastem a morte que ronda e assola a população negra brasileira, neste, e em tempos passados. Neste contexto, desejamos que possam estar seguros/as. Solidarizamo-nos com as mais de cento e dezessete mil vidas perdidas no contexto da pandemia da covid-19.
O dossiê temático “Crianças e Infâncias Negras: desafios e perspectivas antirracistas no Brasil” apresenta a produção de mulheres negras, pautando as crianças e infâncias negras, reivindicando o lugar desses sujeitos em pesquisas acadêmicas, apresentando conceitos construídos por elas e questionando o cenário de omissões e descomprometimento com a infância e juventude em que se pauta a frágil democracia brasileira.
Ainda completam este número produções sobre a transversalização como controvérsia no ensino de ciências, relações raciais através de experiências de “ida ao cinema” da população negra brasileira no início do século XX, cosmopercepção descolonizando o corpo negro, a discussão da construção da identidade nacional em momentos da literatura brasileira, o pensamento de Abdias Nascimento e Antônio Bispo, genocídio e estudos da negritude em midiatização.
A Seção Ensaios discorre sobre mulheres negras como marcador da desigualdade racial. E a Seção Resenha discorre sobre os livros de SCHUCMAN, Lia Vainer e as famílias inter-raciais e APPIAH, Kwame Anthony o legado intelectual diaspórico de W.E.B. Du Bois.
Na seção biografia trazemos a segunda parte da abordagem sobre o sociólogo americano moderno W.E.B. Du Bois organizada pelo professor Dr. Valter Roberto Silvério e Dr Angelo Martins Junior.
Também na Seção Biografia trazemos “Insubmissas Negras”, que tem como do objetivo reconhecer e visibilizar a trajetória de cientistas negras. É com imenso respeito e orgulho àquelas que nos antecederam que apresentamos as Insubmissas Negras da Ciência no Brasil. Evocando nossas ancestrais e parafraseando Sojourner Truth, perguntamos e nós, mulheres negras nas ciências, não somos também pioneiras?
O que vocês encontrarão em “Insubmissas Negras” é fruto das lutas e enfrentamentos das mulheres negras, do passado e do presente, que produzem conhecimento e contribuem para a ciência nacional. É, também, fruto da idealização das Profas, Dra. Anna M. Canavarro Benite, Dra. Bárbara Carine Soares Pinheiro e Dra. Katemari Diogo Rosa. Desejosas que essa iniciativa seja inspiração para muitos jovens pois somos ancestrais, somos pioneiras e somos o futuro.
Agradecemos aos/às colaboradores/as – pareceristas, autores/as, tradutores/as, editores/as, Conselho Editorial, Conselho Consultivo, Diretoria e demais membros da equipe e parcerias – que possibilitaram a publicação desse número e que tornaram factível sua continuidade. Convidamos os leitores e leitoras a navegar por essas narrativas a partir das experiências e investigações aqui compartilhadas.
Modupé!
Publié-e: 2020-08-30