A ciência produzida na academia e as práticas da cultura africana e afro-brasileira historicamente são negadas e invisibilizadas. Nesse sentido é necessário que se estabeleça uma efetiva relação entre ciência, tecnologia e sociedade afim de que os laços sejam estreitados e os saberes que circulam e nos constitui enquanto sujeitos sociais possam dar voz a estes saberes culturais dando espaço a cosmogonia que professamos como povo negro.
Desta forma, existem inúmeras leituras de mundo: cultura científica, cultura religiosa, cultura tradicional, cultura popular, e tantas outras produções naturais, codificadas, simbólicas que exprimem a mais plena comunicação de/ e com a realidade.
A cultura nasce numa rica malha de ser/estar no mundo, das produções de todas as formas de organização das sociedades e se traduz num universo de criações que existe, resiste se expande e mantem vivos os seus. Porém, a riqueza das leituras de mundo afrodiaspóricas é um fato indisputável. A menos que se queria ignorar de que forma o racismo se esforçou para expurgar o negro/a como integrante da espécie humana. Longe de propor limites de encontro às produções aqui ora reunidas convidam a experiência da liberdade em si ou sua falta.
Fruto de um registro criativo, zeloso e do intercâmbio entre as tradições oral e escrita, apresentamos a EDIÇÃO ESPECIAL - Caderno Temático: "Saber-fazer em Ciências & Tecnologias - Trajetórias Afrodiaspóricas, um campo de produção que visibiliza a ciência e tecnologia como discurso crítico contra hegemônico.
Neste contexto este caderno temático apresenta a visão de ciência numa perspectiva eurocêntrica, que objetiva refletir sobre os conhecimentos produzidos por homens e mulheres africanos/as, especialmente os povos Dogons. Traz para a cena sobre as condições de acesso e permanência de estudantes quilombolas na educação superior, através de análise das percepções de beneficiários do Programa Bolsa Permanência do Ministério da Educação- PBP/MEC,
Este número traz a dinâmica de organização da ação social, através das redes sociais e a força de um design construído na luta, resultado dos conhecimentos dos movimentos negros e baseados em uma cosmovisão afro-brasileira, africana e da diáspora negra, no qual chamamos de Design afirmativo.
Ainda completam este número produções sobre a abordagem CTS, desenvolveu-se uma proposta didática, apoiados na teoria de Paulo Freire, de uma educação emancipatória e crítica, no uso de temas geradores. Nela, debateu-se sobre padrões estéticos e pré-conceitos relacionados aos diferentes tipos de cabelos aproximando assim o conteúdo de Química com um tema cotidiano dos educandos e desenvolver uma postura mais crítica em relação às implicações que a Química a Tecnologia tem com a sociedade de consumo que perpetua o racismo institucional.
Agradecemos as/aos colaboradoras/es – pareceristas, autoras/es, tradutoras/es, editoras/es, Conselho Editorial, Conselho Consultivo, Diretoria e demais membros da equipe e parcerias – que possibilitaram a publicação deste número e que tornaram factível sua continuidade. Convidamos as leitoras e os leitores a acessarem estas páginas de puro deleite e resistência.
Modupé!
Comitê Editorial
Anna M. Canavarro Benite (UFG)
Cintia Camargo Vianna (UFU)
José Antonio Novaes da Silva (UFPB)
Mércia Otaviana Barbosa de Sá Figueiredo (UESB)
Publicado: 2019-12-30